Porquê associar os nomes de Thomas Jefferson e José Correia da Serra ao Institute of Public Policy (IPP)?
É uma forma de assinalar a importância da inspiração científica na conceção e execução de políticas públicas.
Cada um à sua maneira, Jefferson e Correia da Serra foram homens que viveram intensamente uma época especialmente fecunda em acontecimentos e mudanças na ciência e na política. Foram muito marcados pelo ambiente filosófico da Ilustração europeia, acreditando nas virtudes do conhecimento como meio para a obtenção da felicidade e do bem comum. Não será esse, afinal e ainda, o grande objetivo das políticas públicas?
Thomas Jefferson
José Correia da Serra


Thomas Jefferson (1743-1826) foi um dos ‘pais fundadores’ da nação americana. Principal autor material da Declaração de Independência de 1776, exerceu 2 mandatos como terceiro Presidente dos Estados Unidos, entre 1801 e 1809, após ter servido como governador do estado da Virgínia (1779-1781) e vice-Presidente (1797-1801) da jovem nação americana. Contribuiu decisivamente para a fundação da Universidade da Virgínia e demonstrou ao longo da vida uma grande apetência e permanente vontade de aprendizagem científica.
No termo da sua carreira política, instalou-se na célebre propriedade e casa de Monticello (Charlottesville, Virgínia), onde desenvolveu aptidões técnicas e inovações tecnológicas motivadas por uma inesgotável curiosidade científica. Revelou tardia ou escassa sensibilidade quanto à aplicação dos princípios da liberdade, igualdade e fraternidade aos descendentes de escravos, usados nas suas propriedades e plantações. Porém, essa fraqueza não ensombra a grandeza das virtudes que demonstrou e dos exemplos de vida que deu para a construção de modernas instituições que forjaram a consolidação dos Estados Unidos como potência emergente de um novo mundo surgido nos finais do século XVIII.
Na casa de Monticello (agora um museu), onde se fixou após ter terminado o mandato presidencial, Jefferson reservava um quarto sempre preparado para acolher o seu amigo José Correia da Serra, por quem nutria genuína e profunda admiração.
O abade José Correia da Serra (1751-1823) foi um dos mais importantes cientistas da Ilustração portuguesa e europeia. Beneficiando de sólida educação que colheu em Roma e Nápoles nos primeiros 20 anos de vida, Correia da Serra regressou e permaneceu em Lisboa entre 1777 e 1795. Contribuiu de forma decisiva para a criação e arranque de atividade da Academia Real das Ciências de Lisboa (fundada em 1779), da qual foi o primeiro secretário, revelando uma enorme capacidade organizativa e estabelecendo uma rede de contactos científicos nacionais e internacionais essenciais para a sua carreira futura. Datam também deste período os seus primeiros trabalhos científicos nos domínios da geologia e da botânica, assim como importantes reflexões metodológicas sobre a utilidade e usos práticos da ciência.
Acusado de simpatias revolucionárias e jacobinas, Correia da Serra iniciou um longo exílio que o levaria aos principais palcos da produção de conhecimento científico inovador, instalando-se em Londres (1795-1801) e depois em Paris (1801-1812). Foi nestas cidades, nos ambientes eruditos e cultos da Royal Society, da Linnean Society e do Museum d’Histoire Naturelle, que Correia da Serra produziu e publicou os seus mais relevantes resultados de investigação botânica. E terá sido também nestes palcos de revolução científica e política que estabeleceu os primeiros contactos pessoais com Thomas Jefferson, dando início a uma promissora amizade luso-americana.
Em 1812 partiu da Europa para os Estados Unidos, fixando residência em Filadélfia. Além da continuidade do trabalho académico e científico, iniciou em meados de 1816 uma tardia, porém significativa, carreira político-diplomática, sendo nomeado embaixador do Reino Unido, de Portugal e Brasil em Washington. Exerceu o cargo até finais de 1820.
A vasta correspondência que manteve com Jefferson durante este período de permanência nos Estados Unidos, bem como as frequentes visitas a Monticello, demonstram a proximidade de formas de pensamento e a comunhão de princípios que Correia da Serra e Thomas Jefferson cultivaram, irmanados pelos ideais iluministas que ajudaram a consolidar, ou seja: a preocupação em afirmar a utilidade do conhecimento das ciências naturais e exatas para a melhoria dos processos de alocação de recursos produtivos, e o propósito de fazer do conhecimento histórico e científico um instrumento privilegiado de transformação da sociedade. Assim se conjuga a modernidade de pensamento de dois autores que muito contribuíram para a perenidade das políticas públicas baseadas no conhecimento.
O texto foi escrito por José Luís Cardoso (Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa)
Nota bibliográfica:
Para aprofundamento da relação de amizade científica entre Correia da Serra e Thomas Jefferson, incluindo parte da correspondência que trocaram, cf. Richard Beale Davis, O Abade Correia da Serra na América, 1812-1820. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2013 (Prefácio de Onésimo Teotónio Almeida e Introdução de José Luís Cardoso).
Activities
The Institute of Public Policy is a multi-disciplinary think tank that seeks to combine economic analysis with political science by developing our work in four key areas of research and debate:
- Climate Change and Digital Transition;
- Public finance and good governance;
- Democracy and accountability;
- Social policy.
The work of our researchers is presented to the public debate through our own series of publications and regular interventions in the press. We are also strongly committed to strength the scientific and cultural exchange between researchers and institutions in the areas of similarity and in the context of the common problems linking Portugal to Europe and to Portuguese-speaking countries, as well as, secondarily, to the United States of America.
Values
Our activities are based on values such as freedom, plurality, independence, innovation and rigor. We intend to contribute to the construction of a more open Portugal (including more open and transparent governments), and to promote individual freedom and social justice, from a pluralistic point of view on the meanings of “freedom” and “justice”.
We also develop values such as reciprocity, solidarity, and the search for knowledge and the common good, in order to promote a more enlightened society and to make political decision-making processes more informed.
Financing
As a non-profit association, the Institute of Public Policy receives annual affiliation fees from its individual and institutional members. For more information about how to become a member, see the support us page.
We can also receive grants or aids from local, regional, national or community public entities, donations from foundations or other private entities, and funding associated with specific research projects.